Projeto de Cenografia e Eventos

Cenografia e Ambientação

Autor: Me. Laura Carolina Oliveira Nobrega
Revisor: Ana Carolina Pereira de Souza
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introdução
Introdução

Ao longo desta unidade, estudaremos o conceito de cenografia, o papel do cenógrafo dentro da composição da representação artística, além de toda a interação dos elementos cênicos com o espectador. Sendo assim, a partir do estudo deste conteúdo, será possível verificar que a cenografia é uma tarefa que vai além da mera decoração do palco, da cena, do conserto musical ou do desfile. A cenografia, além do texto ou do roteiro, serve para contar a história que se quer passar ao seu público, por meio de diferentes elementos que a compõem, como a decoração, o mobiliário, as vestimentas, a iluminação e a maquiagem, ou seja, é por meio da cenografia que será possível dar uma identidade visual ao espetáculo artístico.

Cenografia: Conceito Inicial

Cenografia é um termo muito utilizado em áreas como teatro, cinema, televisão e até mesmo em eventos. Mas você sabe o que significa? Saiba que cenografia não é sinônimo de cenário. Ela diz respeito a todo o conjunto necessário para que a história seja narrada. Abordaremos, aqui, o conceito de cenografia, quais são suas diferenças em relação ao design de interiores e arquitetura e quais são os elementos dentro da cenografia.

O que é Cenografia?

Um cenógrafo tem o ofício de criar a imagem e a identidade visual de um espaço teatral ou cênico. Antes de qualquer coisa, é necessário trazer o conceito de cenografia. Segundo o dicionário Michaelis (2019), cenografia é a “arte e técnica de desenhar ou pintar segundo as regras de perspectiva” ou ainda a “arte e técnica de conceber e realizar espaços cênicos”.

Segundo Urssi (2006), o conceito de cenografia, vocábulo que vem do grego skenographia e do latim scenographia , é toda metodologia de concepção e constituição do evento estético-espacial e da imagem cênica.

Portanto, verifica-se que o conceito de cenografia é mais abrangente do que a mera decoração do espaço cênico, pois envolve muito mais que isso. O projeto de cenografia está intimamente relacionado à escolha do espaço em que se dará a manifestação artística, seja um espaço artificial seja natural. Além disso, está relacionado à participação do espectador, à indumentária utilizada pelos atores e ao instrumental cênico, ou seja, aos utensílios cênicos.

A cenografia trata-se de todo o composto necessário para a criação da identidade cênica, é o conjunto visual (arquitetônico e decorativo) que contribuirá para a narrativa da história a ser contada.

Segundo Cohen (2007, p. 19) há dois conceitos de cenografia:

● Cenografia: é a atividade realizada para áreas relacionadas a expressões artísticas, e é a que será objeto deste texto.
● Cenografia aplicada: é a atividade realizada para atender às necessidades comerciais de uma determinada pessoa, a fim de angariar clientes.

Contudo, não deve se confundir os conceitos de cenografia com o de cenário, pois, segundo Garcia apud Cohen (2007, p. 2), “cenografia é o tratamento do espaço cênico. O cenário é o que coloca neste espaço. Assim, não há espetáculo teatral sem cenografia, mas pode haver sem cenário”. Ou seja, cenário faz parte da cenografia, a qual é dispensável para a ocorrência da expressão, mas a cenografia é imprescindível.

Design de Interiores e a Cenografia

No Brasil, é possível verificar que há uma discussão se alguma criação se trata de cenografia, decoração, instalação, arquitetura ou qualquer outra nomenclatura, trazendo à baila diversos campos de atuação do cenógrafo.

Segundo Cohen (2007, p. 7), “a cenografia, por seu caráter efêmero e provisório, parece ser o termo encontrado para explicar algo que não será tão definitivo como se pressupõe a arquitetura”. Entretanto, erroneamente emprega-se o nome cenografia para definir, distinguir ou enaltecer o que, na realidade, é trabalho de design de interiores, de decoração ou de arquitetura de interiores.

Ainda de acordo com Cohen (2007, p. 7-8), essa confusão entre os propósitos da cenografia e da decoração ocorre pelos fatores destacados a seguir:

1. Na cultura brasileira, até muito recentemente descrevia a cenografia com base na expressão francesa “décorateur”, que nada mais é do que decorador no idioma francês;
2. Resultado do próprio mercado de trabalho, o qual admite que o profissional de cenografia fique transitando de uma linguagem a outra, como por exemplo, cenógrafo que atua tanto no teatro como na televisão.

Em contrapartida, em outros países, nos quais a especialização de cada segmento se destaca, fica mais difícil a transição de uma área para outra, como ocorre no Brasil. Além disso, nesses países, utiliza-se um melhor emprego da nomenclatura, a fim de diferenciar as áreas profissionais de atuação de cada profissional.

A fim de exemplificar essa situação, vamos nos valer dos conceitos de Howard apud Cohen (2007) que deixa explícita a distinção entre o designer de teatro, que é aquele que apenas dispõe de um serviço dado a determinado espetáculo, criando a cenografia, ao passo que o cenógrafo participa efetivamente da construção e das etapas decisivas sobre o espetáculo juntamente com o diretor e com o produtor.

Elementos Cenográficos

Sendo assim, Serroni (2013, p. 25) nos explica que “cenografia não é apenas um desenho de cena, não é só projetar e executar cenários”. Diante disso, é possível perceber que cenografia é uma arte muito mais abrangente que a mera construção de cenários.

Ademais, na cenografia, são usados diversos elementos que servem para solver as necessidades apresentadas no decorrer do espetáculo, como: cores, luzes, formas, aparatos, indumentárias, linhas e volumes.

Portanto, os elementos cenográficos servem para contar a história narrada, assim como quem são e qual é a história dos personagens, ou seja, funcionam como transmissores de sentimentos e estados psicológicos ao público-alvo do espetáculo artístico.

Existem três elementos cenográficos que integram o espaço teatral, conforme explica Pavis apud Cohen (2007, p. 19):

A Cena (skene)

é a composição visual daquilo que a representação artística visa mostrar ao seu público.

O Palco (orchestra)

é o espaço usado, juntamente com seus componentes, para a funcionalidade da representação artística.

A Platéia (thetaron)

é o que representa o público alvo da totalidade da representação cênica.

É importante destacar que tudo que agrega valor gráfico ao espetáculo faz parte da cenografia, desde os grandes efeitos especiais dos filmes hollywoodianos , até a simplicidade de uma peça teatral que traz em seu contexto um monólogo.

Nesse contexto, corroborando com o que já foi demonstrado, Serroni (2013, p. 28) nos explica que o “valor da cenografia não está certamente na quantidade de efeitos ou de elementos no palco. Num palco vazio, com apenas três cadeiras, podemos ter uma cenografia monumental”. Em outras palavras, não importa se a cenografia é simples ou rebuscada, o que importa é a linguagem artística e o conceito a ser passado.

Ou seja, cenografia vai além da decoração e dos efeitos luminosos e sonoros que trazem riqueza ao espetáculo artístico, porque cenografia pode ser simples e com poucos recursos e, mesmo assim, imprimir riqueza ao espetáculo por inteiro. Isso porque a cenografia serve para auxiliar a imagem, a história e a reflexão que se quer contar à plateia.

Por fim, conclui-se que o conceito de cenografia é a expressão gráfica e visual de um determinado espetáculo artístico, seja teatro, musical, cinema, televisão ou outros, sendo considerado como arte o ofício de projetar, conceber e conduzir espetáculos.

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Vamos Praticar

Entre publicações estrangeiras e nacionais, registros e depoimentos coletados de cenógrafos brasileiros e estrangeiros, existem mais de uma centena de definições para responder “O que é Cenografia?”. Tantas que permitiria escrever um livro comentado a partir delas. Afinal, qual a necessidade de criarmos tantos conceitos para definir Cenografia? Por que não sabemos explicar com clareza o que fazemos? Por que não há clareza sobre o papel do cenógrafo? Por que as definições existentes não são suficientes, não exprimem verdadeiramente o que é a cenografia hoje? Ou por que se trata de uma percepção artística, e cada artista a vê através de sua própria subjetividade?

COHEN, M. A. Cenografia brasileira no século XXI : diálogos possíveis entre a prática e o ensino. 2007. Dissertação (Mestrado em Artes Cênicas) – Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.

Considerando o excerto e com o conceito de cenografia, analise as afirmativas a seguir.

I. A cenografia é a decoração do espaço reservado para a realização do espetáculo artístico, a fim de que transmita toda a sua beleza ao público.

II. O trabalho de cenografia vai desde a compreensão do texto, da escolha do espaço, das indumentárias usadas, da decoração ornada e da fala transmitida ao espectador.

III. Há dois tipos de cenografia: a que é voltada a expressões artísticas e a que é voltada a atender as necessidades comerciais de empresas e consumidores.

IV. Cenário e cenografia são sinônimos e podem ser aplicados para o mesmo conceito.

Está correto o que se afirma em:

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O Trabalho do Cenógrafo

A figura mais importante da cenografia, não é o ator, como muitos podem afirmar, mas, sim, o cenógrafo em si. O grande artista executor do labor de transformar diversos elementos em cenografia é o que chamamos de cenógrafo. O cenógrafo é o profissional que (COHEN, 2007, p. 6-7):

Formula o conceito artístico da cenografia, pesquisando a obra artística, seu contexto histórico, perfil das personagens, autor e conteúdo, possibilitando a compreensão do texto; responsável por dar corpo às palavras no espaço e no tempo e criar ambientes e atmosferas que valorizam e enfatizam a concepção cênica; elabora projeto cenográfico a partir de estudos preliminares do espaço cênico; da viabilidade na utilização de materiais e de ajustes com equipes (artística, técnica e de produção) que acompanham sua concretização, coordenando e supervisionando equipes de cenotécnica, produção cenográfica e outras equipes envolvidas na montagem da cenografia; elaboram projeto cenográfico para adaptar cenografia a novos lugares e espaços.

Por isso, esse profissional é a figura que será responsável por criar, juntamente com o diretor, o produtor e toda sua equipe, todos os elementos visuais, sonoros, luminosos e outros, necessários para a narrativa da história. Sendo assim, o cenógrafo tem um papel essencial, pois ajudará a contar uma narrativa, por meio do visual. Muitas vezes, o cenógrafo terá que adaptar ambientes e criar novos espaços, sendo a figura central dentro de um projeto cenográfico.

Portanto, o trabalho do cenógrafo não está restrito apenas a espetáculos de teatros, mas, sim, a diversas representações artísticas em diversos nichos: ópera, cinema, televisão, concertos musicais, carnaval, exposição de museu, eventos de diversas naturezas, parques temáticos e outros.

A responsabilidade do cenógrafo dentro da representação artística é enorme, pois, conforme preleciona Cohen (2007, p. 10), esse profissional, juntamente com o diretor e produtor, é responsável “pela elaboração da atmosfera ou da unidade cênica”, pois trata de todo o cenário como uma estrutura única, dando sentido ao todo da obra, ou seja, dando um novo sentido ao espetáculo e à história.

Fazem parte das atividades do cenógrafo:

  • decupagem do roteiro;
  • pesquisas sobre cultura, história em geral;
  • estudo de colorimetria;
  • busca de locações;
  • desenvolvimento de esboços;
  • desenhos tridimensionais;
  • desenvolvimento de projeto executivo;
  • acompanhamento do trabalho de construção;
  • decoração do ambiente cenográfico.

Além disso, o cenógrafo precisa saber desenhar, não só desenhos livres, mas também técnicos, bem como entender sobre os diversos acontecimentos históricos, de arte e movimentos artísticos, ter grande conhecimento em arquitetura e até de engenharia civil, dominar elementos visuais e pesquisar sempre sobre semiótica. Obviamente que tais aspectos irão se diferenciar, tudo depende do texto a ser interpretado. Dessa forma, o profissional também irá interatuar com profissionais dessas áreas, por isso, é necessário ter conhecimentos básicos para realizar um projeto executivo que atenda à ideia do texto.

É notório que o papel do cenógrafo vai muito além do que a mera decoração do local em que ocorrerá o espetáculo; é preciso ter uma ideia visual de como será o desempenho dos atores.

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Saiba mais

Você alguma vez já ouviu falar de Gringo Cardia? Waldimir Cardia Junior, conhecido como gringo, é um dos cenógrafos brasileiros ainda influentes no mercado atual. Ele já trabalhou em diversos projetos artísticos nacionais e internacionais. No Brasil  e no exterior, já recebeu diversos prêmios por seu trabalho como cenógrafo. Para conhecer mais detalhes do trabalho desse profissional, acesse o site oficial, indicado a seguir:

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Na contemporaneidade, as fronteiras entre as mais diversas áreas do teatro estão se desfazendo. O espaço, a luz, a direção e a dramaturgia estão se interligando. Tais divisões estão se tornando, cada vez mais colaborativa, e o cenógrafo acaba assumindo essas novas responsabilidades. O papel do cenógrafo, atualmente, é muito mais do que um decorador ou do que a pessoa que trabalha apenas com a linguagem visual do espetáculo, pois é necessário que seja um profissional multidisciplinar e que tenha afinidade com áreas técnicas e artísticas, pois será responsável por conceber processos técnicos e de criação.

COHEN, M. A. Cenografia brasileira no século XXI : diálogos possíveis entre a prática e o ensino. 2007. Dissertação (Mestrado em Artes Cênicas) – Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.

De acordo com o contexto apresentado, assinale a alternativa que indica uma atividade que não é exercida pelo coreógrafo.

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O Espaço Cênico

A cenografia é uma maneira de expressão artística, que é composta de arte e técnica, a fim de criar um espaço e um visual que dialogam com o espaço cênico em sua totalidade.

O espaço cênico não é necessariamente o teatro. No teatro de rua, por exemplo, o espaço cênico se dá no espaço público: praças, ruas, parques, etc. O teatro medieval, por exemplo, ocorria dentro de igrejas e nas ruas. Outro ponto que é importante destacar é o de que o público também faz parte do espaço cênico. Falaremos sobre o instrumental cênico e refletiremos sobre a importância da cenografia dentro de um espetáculo.

A Importância da Cenografia na Composição do Espetáculo

Cenografia é uma maneira de expressão artística, que é composta de arte e técnica, a fim de criar um espaço e um visual que dialoguem com o espaço cênico em sua totalidade. Sendo assim, é importante destacar que o público também faz parte do espaço cênico.

Todo esse espaço cênico faz parte do que foi conceituado por Pavis citado por Cohen (2007, p. 27) de acontecimento teatral, que é “a representação teatral, não apenas no ficcional, mas em sua realidade de prática artística que dá origem a uma troca entre ator e espectador”.

O trabalho de cenografia é a junção de elementos materiais e imateriais que, combinados, criam um diálogo, uma comunicação com todos os espectadores, mas sem perder a individualidade da narração.

A composição de todos os elementos visuais, sonoros e luminosos faz parte do trabalho do cenógrafo, que é responsável por criar o acontecimento teatral, bem como pela contação das histórias, que levam os seus espectadores a viajar no tempo e no espaço.

De acordo com Cohen (2007, p. 34), “o mundo representado pelo Teatro tornou-se realidade imaginada, carregada de simbolismos, contemplada pela abstração”. Por isso, é possível perceber que o acontecimento teatral criado pela cenografia representa ou o mundo atual em que vivemos ou o mundo imaginário que permite ao público que realize uma viagem pela imaginação do objeto do espetáculo artístico.

A cenografia serve para transmitir, também, toda a linguagem artística que o espetáculo deseja transmitir ao público. Por meio de expressão de emoções, pensamentos e reflexões, permite-se que a audiência receba essas informações e a interprete, não de uma maneira restrita, mas, sim, de uma maneira livre.

É essencial compreender o papel da cenografia como linguagem artística, pois, assim, é possível diferenciar a cenografia da cenografia aplicada, que utiliza a linguagem da cenografia e a aplica ao cenário comercial, por meio do uso de diversos meios de comunicação, como a publicidade, para atingir os consumidores quanto à utilidade e à necessidade daquele produto ou serviço.

Outro aspecto importante da cenografia é a utilização do espaço que lhe é dado. Nesse contexto, segundo Cohen (2007), assemelha-se muito o trabalho do cenógrafo com o do arquiteto.

Porém, o diferencial entre o espaço usado pelo cenógrafo reside no fato que esse espaço será usado para garantir a comunicação entre os artistas e a audiência somente no decorrer do espetáculo artístico, ao passo que o espaço utilizado pelo arquiteto será destinado simplesmente para fruição do homem.

O Instrumental Cênico

Ao ver um espetáculo, em quais elementos você repara no cenário? O cenário é composto de estrutura e linguagem. Para definir o instrumental cenográfico, é preciso levar em consideração elementos relacionados ao espaço cênico, compreender qual é a linguagem a ser adotada e quais significados serão trabalhados.

Segundo Urssi (2016), a criação e concepção do espaço cênico abrangem aspectos conceituais e práticos específicos da encenação. Segundo o autor, a criação de um cenário sai da geração e estruturação de ideias e vai para outras três dimensões: o ator, o tempo e o espaço.

Sendo assim, é preciso associar e refletir sobre a relação entre tais elementos para finalizar a compreensão e conceber um espaço cênico. O “encontro” entre espaço, corpo, lugar, espectador, texto e sentido ocorre no espaço teatral e influencia na percepção do espaço cênico.

Mas como trabalhar tais questões? Urssi (2016, p. 76) explica que

Esse conteúdo pode ser organizado através da diversidade de leituras simultâneas permitidas pelo espetáculo e refere-se aos contextos e convenções do teatro, à performance e à instalação de arte, reconhecendo uma escala de intenções expressas como o acoplamento social, a prática artística e a intervenção política.

A cenografia é um espaço onde ocorrem interações, experimentações, associações, sensações e percepções. Uma fundamentação estética e funcional deve ser feita por parte do cenógrafo. Sendo assim, Urssi (2016) divide as questões conceituais e práticas específicas da encenação nas relações entre:

  • Espaço de corpo

A relação entre o espaço e o corpo se dá quando o ator interage, por meio de informações físicas e simbólicas em cena. Por isso, vários elementos estão em jogo, como performance , figurino, maquiagem e suas relações com a cenografia. Sendo assim, a cinésica estuda as expressões faciais e corporais e seus significados.

  • Espaço e lugar

Segundo Urssi (2016), a sequência do espetáculo e a medida de tempo se dão pelo trajeto do início ao fim. O autor aborda o conceito de lugar como sendo um conjunto de elementos coexistindo e afirma que tem caráter identificador relacional e histórico.

  • Espaço e espectador

Fato é que no teatro o encontro acontece, pois esse espaço é construído, exatamente, para que o espectador receba mensagens vindas das mais diversas formas, podendo ser por meio da fala, do cenário, do figurino, do gesto, da iluminação, de interações e provocações. Por isso, a partir de todo o seu repertório, o espectador terá sua própria leitura e interpretação de um espetáculo teatral. Portanto, pensar em cenografia é pensar na troca entre o espetáculo e o espectador.

  • Espaço e texto

A cenografia deve ser pensada como parte de um texto, pois seu papel é transmitir o que está expresso em palavras. No decorrer de um texto, temos apenas as intenções de uma encenação e da cenografia, porém é preciso identificar, desenvolver e trabalhar as ideias para que a linguagem visual ande junto com o texto.

Todo espetáculo teatral concretiza-se na construção cênica dos significados, nos códigos semânticos dos textos teatrais. Qualquer ação ou fato, real ou fictício, é apresentado cênicamente para que um elemento se coloque no lugar de outro elemento que não seja ele próprio. Como representação revela o caráter sígnico que o reveste através da referencialidade, significado e intertextualidade (URSSI, 2016, p. 81).

Por isso, compreender o texto e significá-lo, por meio de elementos, é a função da cenografia, que é uma atividade íntima, complexa e de muita pesquisa. O processo criativo tem início no texto e o cenógrafo mergulha em seu universo com o objetivo de buscar referências, significados. Contudo, a relação entre espaço e texto se dá na construção de mensagens, a partir de códigos semânticos.

● Espaço e sentido

Urssi (2016, p. 77) afirma que a “construção dos sentidos do homem abrange conceitos estéticos, perceptivos e psicológicos.” O sentido no espaço teatral se transforma de acordo com tempo e espaço, sendo preciso analisar culturas e comportamentos. Portanto, cada cultura vê significados diferentes para determinados fenômenos e essa significação é o que deve ser analisada. Uma boa cenografia é aquela que não é apenas decorativa, mas que participa da narrativa, ou seja, a partir de elementos consegue se comunicar de forma correta, buscando sentido.

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Vamos Praticar

O espaço cênico se relaciona com diversos elementos, pois depende do espaço teatral, da encenação e da relação entre a cena e o público. Portanto, ao pensar sobre o espaço cênico, o cenógrafo precisa analisar o espaço teatral, ou seja, o lugar em si, e também o espaço dramático, por isso, é preciso entender todas essas linguagens e comunicá-las. Nesse contexto, a “investigação e análise do texto, do espaço e do corpo do ator como fontes preliminares para a criação e a articulação, física e digital, evolui aos métodos de representação cênica relacionando-os no espetáculo enquanto cena e imagem, iluminação e projeções, som e silêncio”.

COHEN, M. A. Cenografia brasileira no século XXI : diálogos possíveis entre a prática e o ensino. 2007. Dissertação (Mestrado em Artes Cênicas) – Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.

De acordo contexto apresentado, pode-se afirmar que, na cenografia, o espaço cênico se relaciona com:

I.       Corpo do ator.

II.      Lugar.

III.     Público.

IV.     Texto.

Está correto o que se afirma em:

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Projeto de Cenografia

O projeto de cenografia se dá pela geração de ideias e da criação de um esboço sendo representado, por meio do traço, ou seja, do desenho. O resultado do projeto cenográfico é o desenho, porém não podemos nos esquecer da importância de todo o processo criativo em sua concepção.

Como podemos verificar, a cenografia contemporânea é transdisciplinar, ou seja, envolve diversos segmentos. Rossini (2012, p. 9) afirma que

A reflexão que procura redimensionar o conceito de cenografia para revelar a complexa gama de pro-posições vinculadas a ela não encontrou ainda uma nomenclatura própria e adequada; dessa maneira, toma de empréstimo termos oriundos das artes visuais para poder discutir suas questões mais urgentes.

O processo criativo de grandes projetos pode levar anos, por ser um trabalho minucioso e de pesquisa. Leva-se em consideração o texto, todo o universo do espetáculo, o espaço, o tempo, o sentido, os elementos visuais. Enfim, é necessário pensar na mensagem que o texto quer passar e em como fazer.

Decupagem Textual

O projeto de cenografia tem início com o processo chamado decupagem de texto. Decupar um texto nada mais é do que compreender a sua sequência dramática. Kamita (2011) afirma que o termo “decupagem” vem do francês dècouper , que significa cortar ou do inglês breaking into shots .

Com a decupagem de texto, o cenógrafo entende o período histórico em que a encenação ocorreu, pensa nas mudanças das cenas, nos movimentos e nas necessidades dos atores, nas sensações que devem ser passadas ao espectador, nas intenções das cenas, entre outros elementos.

A decupagem vai organizar de maneira mais prática a organização das cenas, pois estrutura como todas as ideias serão feitas. No cinema, por exemplo, a decupagem roteiriza o que será gravado, indicando a posição da câmera e o enquadramento dos atores e dos objetos.

Para Burch (1973), a decupagem documenta e detalha as cenas por escrito, adicionando detalhes técnicos. Além disso, faz uma espécie de “decisões” em relação a planos e cortes.

Após a decupagem do texto, faz-se um esboço das cenas, mostrando a disposição geral de cena: quais mobiliários e objetos serão utilizados, onde serão colocados, onde acontece cada cena, dentre outros fatores.

A Linguagem Cenográfica

As maquetes e/ou os desenhos tridimensionais são desenvolvidos com o objetivo de mostrar como serão as cenas. Tais elementos possibilitam a visualização cênica para a equipe, tanto de criação, como de outras áreas envolvidas no espetáculo. Eles fazem com que qualquer profissional que esteja trabalhando compreenda melhor como se dará o projeto.

Quando pronto, o projeto deve ser apresentado para a equipe. É nesse momento em que os detalhes entre a produção e os atores são discutidos. Por isso, é importante que haja essa interação e que o processo seja colaborativo, para que o projeto seja efetivamente claro. Normalmente, diversas reuniões são feitas para definir cronograma e projetos estruturais de cor, áudio, objetos, figurino, entre outros.

É importante citar que não há exatamente uma regra para o desenvolvimento de um projeto e tudo dependerá das particularidades do texto. O projeto cenográfico pode ser feito a partir de painéis de inspiração, storyboards , layouts , desenhos tridimensionais, manuais, desenhos tridimensionais através de programas específicos tipo CAD, maquetes, storyboards , etc.

reflita
Reflita

Atualmente, vemos a presença da realidade aumentada no espaço cenográfico. Ela consiste na inserção de elementos virtuais ao espaço real, com a finalidade de adicionar sensações e imagens e não substituí-las do espaço em que vivemos. Esses elementos podem ser trazidos ao espaço real por meio da utilização de capacetes ou óculos especiais, que os adicionam à realidade. A realidade aumentada expande as sensações passadas aos espectadores, ao inserir esses elementos virtuais ao espaço real. Hoje, um grande exemplo dessa realidade aumentada, que foi uma “febre” entre os mais jovens, foi o uso do aplicativo de telefone móvel Pokemon Go, que consistia na inserção de elementos do universo do desenho Pokémon à realidade para que os seus usuários se sentissem como parte deste universo.

Fonte: Maia e Muniz (2018, on-line ).

Além disso, cada cenógrafo possui uma metodologia e um suporte para a realização de um projeto. O desenho do projeto quase sempre é feito, pois é um grande aliado visual na organização de ideias, e é um dos principais instrumentos para concretizar e comunicar as ideias.

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“O cinema e o teatro são veículos para a expressão de emoções, possuindo traços que os aproximam e distanciam. O teatro conta com uma tradição de séculos, o cinema surgiu no final do século XIX, apoiado pela tecnologia da época, e foi bem recebido por uns, mal visto por outros, criando pontos de tensão em busca de garantias de seu próprio espaço. Em um primeiro momento é possível aproximá-los pelo viés dramatúrgico, considerando a forma como os personagens são trabalhados, a relevância dos diálogos, a construção de cenas, a realização conjunta necessária para que uma peça e um filme estreiem. Direção, produção, cenário, figurino, iluminação, som... são vários setores envolvidos em um projeto comum. Porém, suas especificidades residem em algumas questões, com destaque para aspectos básicos, como a efemeridade do espetáculo teatral versus a perenidade da imagem gravada”.

KAMITA, R. Dramaturgia: literatura, cinema e teatro.  In: CONGRESSO INTERNACIONAL DA ABRALIC, 7., Curitiba, 2011. Anais [...]. Curitiba: UFPR, 2011. Disponível em: http://www.abralic.org.br/eventos/cong2011/AnaisOnline/resumos/TC0229-1.pdf . Acesso em: 17 nov. 2019.

Diante do contexto, analise as afirmativas a seguir, assinalando (V) para Verdadeiro e  (F) para Falso.

I. (  ) O processo criativo de projetos cenográficos são breves e rápidos, por ser um trabalho com poucos detalhes.

II. (  ) A fim de criar todo o projeto cenográfico, todos os seus elementos são levados em consideração, como o texto, o espaço, o tempo, o sentido e os elementos visuais.

III. (  ) Decupagem é a fase inicial do criação do projeto cenográfico, que consiste na tarefa de compreensão de toda a sequência dramática que o artista quer passar ao seu público.

IV. (  ) A cenografia é um processo colaborativo que depende da ação de toda cadeia criativa, desde o roteirista, diretor, produtor, iluminador, figurinista, ator, entre outros.

A partir do exposto, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:

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indicações
Material Complementar
Livro

Cenograficamente: da cenografia ao figurino

Jose de Anchieta

Editora: SESC SP

ISBN: 9788569298465

Comentário: José de Anchieta, no livro sobre o trabalho cenográfico no Brasil,  relata suas histórias profissionais ligadas ao teatro e conta como suas raízes influenciaram seu senso estético. O autor mostra cadernos de cenografia e figurino e diversos projetos que realizou. É um ótimo ensinamento para quem pensa em iniciar na área, com casos reais e práticos de figurino e cenografia. Além disso, é um importante registro histórico de um grande profissional brasileiro.

conclusão
Conclusão

A partir da leitura desta unidade, podemos considerar que o trabalho do cenógrafo é árduo e envolve diversos elementos como palco, público e cena. Assim, a cenografia não é uma expressão artística livre, pois é composta de técnica, sendo necessária a verificação dos elementos que farão parte da composição do espaço cênico, que auxiliará na comunicação do artista ao público de maneira técnica. Além disso, demonstrou-se que para ocorrer esse diálogo deve haver interação do espaço cênico com o corpo, o lugar, o sentido, o espectador e o texto.

Por fim, todo projeto cenográfico se inicia com a decupagem do texto, que é o entendimento da linguagem dramática do espetáculo, passando para a elaboração do projeto cenográfico, que é apenas uma simulação do trabalho, e, por último, a realização da própria cenografia no local destinado para a realização do espetáculo artístico.

referências
Referências Bibliográficas

BURCH, N. Práxis do Cinema . Tradução de Nuno Júdice e Cabral Martins. Lisboa: Editorial Estampa, 1973.

CENOGRAFIA. In : MICHAELIS: moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php . Acesso em: 17 nov. 2019.

COHEN, M. A. Cenografia brasileira no século XXI : diálogos possíveis entre a prática e o ensino. 2007. Dissertação (Mestrado em Artes Cênicas) – Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.

DORTA, L. Fundamentos em Técnicas de Eventos . São Paulo: Bookman Companhia, 2015.

KAMITA, R. Dramaturgia: Literatura, Cinema e Teatro. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DA ABRALIC, 7., Curitiba, 2011. Anais [...]. Curitiba: UFPR, 2011. Disponível em: http://www.abralic.org.br/eventos/cong2011/AnaisOnline/resumos/TC0229-1.pdf . Acesso em: 17 nov. 2019.

MAIA, H. G.; MUNIZ, E. S. Novos caminhos para a cenografia diante da evolução tecnológica: o teatro e a realidade aumentada. Rev. Tecnologia , Fortaleza, v. 39, 2018. Disponível em: https://periodicos.unifor.br/tec/article/view/6706 . Acesso em: 17 nov. 2019.

ROSSINI, E. Cenografia no teatro e nos espaços expositivos: uma abordagem além da representação. TransInformação , Campinas, v. 24, n. 3, set./dez., 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/tinf/v24n3/a01v24n3 . Acesso em: 15 nov. 2019.

SERRONI, J. C. Cenografia brasileira : notas de um cenógrafo. São Paulo: SESC, 2013. 375 p., cap 1-2.

URSSI, N. J. A linguagem cenográfica . 2006. Dissertação (Mestrado em Artes Cênicas) – Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.

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